Ai, filho, sabes, sabes
donde vens ?
Dum lago com gaivotas
brancas e famintas.
Junto à água de inverno
ela e eu levantámos
uma fogueira rubra,
consumindo os lábios
de tanto beijarmos nossas almas,
lançando ao fogo tudo,
queimando as nossas vidas.
Assim vieste ao mundo.
Mas ela, para ver-me
e para ver-te, um dia
atravessou os mares
e eu, para abraçar
sua pequena cintura,
percorri a terra inteira,
por entre guerras e montanhas,
areais e espinhos.
Assim vieste ao mundo.
Vens de tantos lugares,
da água e da terra,
do fogo e da neve,
de tão longe caminhas
ao encontro de nós dois,
desse terrível amor
que nos acorrentou,
que queremos saber
como és, que nos dizes,
porque tu sabes mais
do mundo que te demos.
Como uma grande
tempestade sacudimos
a árvore da vida
até às mais ocultas
fibras das raízes
e apareces agora
cantando na folhagem,
no mais alto ramo
que contigo alcançamos.
in Pablo Neruda, Os Versos do Capitão
quarta-feira, 6 de junho de 2007
Os versos do capitão
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