A photographer who made a picture from a splendid moment, an accidental pose of someone or a beautiful scenery, is the finder of a treasure.
Robert Doisneau
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Finding a treasure...
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Long Sight In Age
Long Sight In Age
They say eyes clear with age,
As dew clarifies air
To sharpen evenings,
As if time put an edge
Round the last shape of things
To show them there;
The many-levelled trees,
The long soft tides of grass
Wrinkling away the gold
Wind-ridden waves- all these,
They say, come back to focus
As we grow old.
Philip Larkin
quinta-feira, 24 de abril de 2008
O mais-que-perfeito
Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...
O mais-que-perfeito - Vinicius de Moraes
in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)
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segunda-feira, 7 de abril de 2008
Borboletas
Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens
e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta
Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras
do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças
do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do
que os homens.
Vi que andorinhas sabem mais das chuvas do que
os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do
ponto de vista de uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.
Borboletas - Manoel de Barros
in "Ensaios Fotográficos"
sábado, 8 de março de 2008
O homem e a água
Deixa-me ser o que eu sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.
E o meu destino é seguir...
seguir para o mar.
O mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...
O homem e a água
(Mário Quintana, Últimos Poemas - 1994)
sábado, 23 de fevereiro de 2008
I really believe...
I really believe there are things nobody would see if I didn't photograph them.
Diane Arbus
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Green God
Green God
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
Eugénio de Andrade
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Foram pétalas
Foram pétalas
Ou olhos de deusas
Que calquei?
Não,
Não me digam
Eu sei
Que foram Sonhos
Foram pétalas
Daniel Faria In “Poesia”
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
O lugar da Casa
Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
O lugar da Casa - Eugénio de Andrade
sábado, 15 de setembro de 2007
Num dia...
"NUM DIA DE FINGIDA TRANSUMÂNCIA
eu, pássaro materno dos país,
levarei nas asas
o verão descuidado
e as palavras que devem ser ouvidas.
Oh! tempo essencial
na alvorada irei colher
sob o arco da ponte adormecida
as bicadas do orvalho;
no caule da sombra
retrato do meu caminho,
apelarei para a luz
eu, pássaro-poeta
que viu René(*)
inaugurar seu voo numa rajada de vento."
Jean-Albert Guénégan
(*) René Guy Cadou
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Ilha do Sul
Ilha do Sul
É a ilha do Sul. É.
Longe, num mar desconhecido, é um ponto no horizonte.
É uma malha de neblina.
Entre o alvor e a escuridão
Emerge das águas brancas
e dura infinitamente.
E num instante vai ao fundo.
E o mar das delícias
é pesado e ébrio.
E o sal fecha a ferida
e o presságio que nem existe.
Que no fundo obscuro
há apenas conchas cobertas de areia
e ramos de oliveira amarga
em embalar do musgo.
E a água abre-se
e a estrela forte surge
e vem o novo navio
e a ilha do Sul existe.
Kajetan Kovic (esloveno)
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Quando eu nasci...
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Pequeno poema - Sebastião da Gama (1924 - 1952)
quarta-feira, 25 de julho de 2007
É a minha rosa...
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. (...)
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (excepto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
(...)
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry
terça-feira, 24 de julho de 2007
Os dias de Verão
OS DIAS DE VERÃO
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo.
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem.
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo.
Sophia de Mello Breyner Andresen
sábado, 14 de julho de 2007
Mãos
Mãos
Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.
Sophia de Mello Breyner Andresen
terça-feira, 3 de julho de 2007
Contar-te...
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Manuel Alegre
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Doors
"...", originally uploaded by ana_maria_
DOORS
A metaphor for life, doors.
From our earliest years we
open and shut them without
a thought, yet they symbolise
our journey to the very end.
So when is a door not a door?
When it's ajar. Jocular jocular,
Jerry Hughes
terça-feira, 19 de junho de 2007
It's not what you look at...
light & shadows # 1, originally uploaded by ana_maria_
It's not what you look at that matters, it's what you see.
Henry David Thoreau
sexta-feira, 8 de junho de 2007
The language of friendship...
Pirenópolis, Goiás, originally uploaded by ana_maria_
The language of friendship is not words but meanings.
Henry David Thoreau
Tenho o nome de uma flor
"...", originally uploaded by ana_maria_
Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei.
Tenho o nome de uma flor - Eugénio de Andrade
