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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Vôo


Butterfly ... and friends..., originally uploaded by Azorina.





Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.

Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós, em redor de nós as
palavras voam.
E às vezes pousam.



Vôo - Cecília Meireles


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sábado, 17 de maio de 2008

Os Cisnes


Silhuettes of art (III) ..., originally uploaded by Azorina.


A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul, sem ondas nem espumas.

Bem cedo quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo...
Quando chegar esse momento incerto,
No lago onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo cheio de saudade
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado d'outro cisne.

"Os Cisnes"
Júlio Mário Salusse

quinta-feira, 24 de abril de 2008

If you want to lie...


Ilusões ..., originally uploaded by Azorina.



To understand photographs, I believe you have to understand that the camera just shows what it shows. Photography may be moving, exciting, compassionate, or clever. But the camera cannot lie. Neither can a slide rule, a balance. If you want to lie, you have to do it with words.

John Loengard

domingo, 13 de abril de 2008

Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito...


Reflexos na Lagoa das Furnas..., originally uploaded by Azorina.


Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.


Hilda Hilst - (Alcoólicas - V)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Se...


My gift to you..., originally uploaded by Azorina.

Se não houver frutas, valeu a beleza das flores;
se não houver flores, valeu a sombra das folhas;
se hão houver folhas, valeu a intenção da semente.


Henfil

sábado, 8 de março de 2008

Vos sinto por toda parte


Olhando o mar... e não só..., originally uploaded by Azorina.


Vos sinto por toda parte.
Se me falta o que não vejo
Me sobra tanto desejo
Que este, o dos olhos, não importa.

(Antes importa saber
Se o que mais vale é sentir
E sentindo não vos ver.)

São coisas do amor,
Desordenadas, antigas.
E se são coisas que se invejam
P'ra se cantar a cantiga.

Não são os olhos que vêem
Nem o sentido que sente.
O amor é que vai além
E em tudo vos faz presente.

Hilda Hilst

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Laughing Song


Old aqueduct ..., originally uploaded by Azorina.


When the green woods laugh with the voice of joy,
And the dimpling stream runs laughing by;
When the air does laugh with our merry wit,
And the green hill laughs with the noise of it;

When the meadows laugh with lively green,
And the grasshopper laughs in the merry scene;
When Mary and Susan and Emily
With their sweet round mouths sing 'Ha ha he!'

When the painted birds laugh in the shade,
Where our table with cherries and nuts is spread:
Come live, and be merry, and join with me,
To sing the sweet chorus of 'Ha ha he!'

LAUGHING SONG - William Blake

O Vento na Ilha


By the sea..., originally uploaded by Azorina.

"Vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como ele corre o mundo
para levar-me longe.
Esconde-me em teus braços
por esta noite erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe."
(...)

O Vento na Ilha - Pablo Neruda

Oiro sobre Azul


Niagara on the lake..., originally uploaded by Azorina.


Oiro sobre Azul

Um
dia azul onde o teu nome
a oiro nele surgisse gravado

um dia todo de azul e oiro
e no ar inscritas, cinco letras
que em grito dissessem
o que eu não quero calar

Um dia azul..azul.. azul…
onde em sussurro eu pudesse
dizer-te as cinco letrinhas
que eu quis gritar.

Angela Santos

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Simpatia...



Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

(...)
Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!


Que é simpatia - Casimiro de Abreu

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Às vezes ouço passar o vento...


Porque hoje é sábado..., originally uploaded by Azorina.



Às vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Mãe, que é que é o mar, mãe?


Unconditional love..., originally uploaded by Azorina.


"Mãe, que é que é o mar, mãe? Mar era longe, muito longe dali, espécie de lagoa enorme, um mundo d'água sem fim. Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. 'Pois mãe, então o mar é o que a gente tem saudade?'


Guimarães Rosa, do livro "Grande Sertão, Veredas"

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Noite


Imensidão..., originally uploaded by Azorina.




Mais uma vez encontro a tua face,
Ó minha noite que julguei perdida.

Mistério das luzes e das sombras
Sobre os caminhos de areia,

Rios de palidez que escorre
Sobre os campos a lua cheia,

Ansioso subir de cada voz
Que na noite clara se desfaz e morre.

Secreto, extasiado murmurar
De mil gestos entre a folhagem

Tristeza das cigarras a cantar.

Ó minha noite, em cada imagem
Reconheço e adoro a tua face,
Tão exaltadamente desejada,
Tão exaltadamente encontrada,
Que a vida há-de passar, sem que ela passe,
Do fundo dos meus olhos onde está gravada.



Noite - Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Borboleta


Free as a butterfly ..., originally uploaded by Azorina.


Filha da larva que o Inverno hostil
Gelou numa dureza concentrada
Ao aquecer do flavo Sol d’Abril
Surgiu de forma leve e curva alada.

Íris que voa, aspiração subtil
Da flor que quis ser ave, e transformada
Libra no ar a pétala gentil,
Asa da cor, paleta iridiada,

Poisa tão breve que se um sopro a agita
Ergue-se a bambolina num fulgor...
Aflora os lábios duma margarita.

Abrindo manchas, vai de flor em flor,
Flutua, anseia, embala-se e palpita...
Como um bailado trémulo da cor.


A Borboleta - Jaime Cortesão

sábado, 1 de dezembro de 2007

Interrogação


Lonely leaf..., originally uploaded by Azorina.



INTERROGAÇÃO

Estar morto
E ainda verde,
Como as primeiras folhas
Caídas no Outono,
Será esse
O destino
Dos Poetas?



Raul de Carvalho

in Poesia Instante (1984)

Water Picture


White wings of power..., originally uploaded by Azorina.




In the pond in the park
all things are doubled:
Long buildings hang and
wriggle gently. Chimneys
are bent legs bouncing
on clouds below. A flag
wags like a fishhook
down there in the sky.

The arched stone bridge
is an eye, with underlid
in the water. In its lens
dip crinkled heads with hats
that don't fall off. Dogs go by,
barking on their backs.
A baby, taken to feed the
ducks, dangles upside-down,
a pink balloon for a buoy.

Treetops deploy a haze of
cherry bloom for roots,
where birds coast belly-up
in the glass bowl of a hill;
from its bottom a bunch
of peanut-munching children
is suspended by their
sneakers, waveringly.

A swan, with twin necks
forming the figure 3,
steers between two dimpled
towers doubled. Fondly
hissing, she kisses herself,
and all the scene is troubled:
water-windows splinter,
tree-limbs tangle, the bridge
folds like a fan.


Water Picture by May Swenson

domingo, 18 de novembro de 2007

Noite do meu inverno


A rustle of delight ..., originally uploaded by Azorina.




E se o vento varrer as folhas secas sem deixar nenhuma?
Este Outono ela não guardará folhas dentro dos livros
E ele não escreverá mais poemas a falar da sua morte
E ambos serão obrigados a não sair do Verão, mesmo
no Inverno, à chuva, atrás dos vidros.




António Barahona - Noite do Meu Inverno

E o mundo aconteceu...


Um lugar no Paraiso ..., originally uploaded by Azorina.


Além do promontório, o mar aberto,
enigma da distância mais remota!
Baloiça a barca o seu destino incerto,
as velas sonham-se asas de gaivota...

Experto, o velho avisa, nos areais...
Viúvas de amanhã aflitas choram...
No céu, sucedem-se astros os sinais...
Os medos por haver já não demoram...

Trombetas anunciam a largada!
As tágides soluçam a saudade
nos versos que Camões à pátria deu...

Ao leme vai a mão determinada,
ousando ser além posteridade...
e, pouco a pouco, o mundo aconteceu.


Do Poeta Português,
José-Augusto de Carvalho(E O MUNDO ACONTECEU ... 30 de Outubro de 2005)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Nem sempre o corpo se parece...


Window Sill ..., originally uploaded by Azorina.

"Nem sempre o corpo se parece com
um bosque, nem sempre o sol
atravessa o vidro,
ou um melro cante na neve.
Há um modo de olhar vindo
do deserto,
mirrado sopro de folhas,
de lábios, digo."


Nem sempre o corpo se parece - Eugénio de Andrade
In "O peso da sombra"

Olhando o mar, sonho sem ter de quê


Lá longe..., originally uploaded by Azorina.



Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Olhando o mar, sonho sem ter de quê - Fernando Pessoa