Poemas aos Homens do nosso tempo
Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu
Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.
Hilda Hilst
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Poemas aos Homens do nosso tempo
terça-feira, 31 de julho de 2007
A Hora da Partida
A Hora da Partida
A hora da partida soa quando
Escurecem o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, 26 de julho de 2007
Janela
Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.
" Janela" - Adélia Prado
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Não fales as palavras dos homens...
Não fales as palavras dos homens
Palavras com vida humana
Que nascem, crescem e morrem
Faze a tua palavra perfeita
Dize somente coisas eternas
Vive em todos os tempos
Pela tua vez
Sê o que o ouvido nunca esquece
Repete-te para sempre
Em todos os corações
Em todos os mundos...
Cecília Meireles
segunda-feira, 4 de junho de 2007
It is autumn...
It is autumn; not without
But within me is the cold.
Youth and spring are all about;
It is I that have grown old.
Birds are darting through the air,
Singing, building without rest;
Life is stirring everywhere,
Save within my lonely breast.
There is silence: the dead leaves
Fall and rustle and are still;
Beats no flail upon the sheaves,
Comes no murmur from the mill.
Henry Wadsworth Longfellow
sábado, 2 de junho de 2007
Há a neve...
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
Fernando Pessoa
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Fatalidade
Não sei tecer
senão espumas,
nuvens
e brumas.
Coisas breves,
leves,
que o vento desfaz.
Como prender-te
em teia tão frágil?
(Fatalidade - Luisa Dacosta)
Mar absoluto
(...)
"Não é apenas este mar que reboa nas minhas vidraças,
mas outro, que se parece com ele
como se parecem os vultos dos sonhos dormidos.
E entre água e estrela estudo a solidão.
E recordo minha herança de cordas e âncoras,
e encontro tudo sobre-humano.
E este mar visível levanta para mim
uma face espantosa.
E retrai-se, ao dizer-me o que preciso.
E é logo uma pequena concha fervilhante,
nódoa líquida e instável,
célula azul sumindo-se
no reino de um outro mar:
Ah! do Mar Absoluto."
(Mar absoluto – Cecília Meireles)
Hoje de manhã...
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
Alberto Caeiro
