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sábado, 8 de março de 2008

O homem e a água


Vagafogo..., originally uploaded by ana_maria_.




Deixa-me ser o que eu sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.
E o meu destino é seguir...
seguir para o mar.
O mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...

O homem e a água

(Mário Quintana, Últimos Poemas - 1994)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Emergência


Um olhar nas minhas mãos..., originally uploaded by Joe Taruga.


Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

(Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural, 1976)

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Força do hábito

"Um dia o meu cavalo voltará sozinho e, assumindo sem querer a minha própria imagem e semelhança, virá ler, naquele café de sempre, nosso jornal de cada dia...

"Força do Hábito" - Mario Quintana

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Obsessão do Mar Oceano


Porque há palavras..., originally uploaded by Joe Taruga.


OBSESSÃO DO MAR OCEANO

Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

Mário Quintana

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Caminho


, originally uploaded by Azorina.

CAMINHO

Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem mais sabia aonde ia...
Era um caminho
velhinho,
perdido...
Não havia traços
de passos no dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho...
Eu vi...
Porque são os passos que fazem os caminhos!


Mário Quintana

terça-feira, 5 de junho de 2007

Este quarto...


Por do Sol no Canto do Bambu, originally uploaded by Goga_.


Este quarto...

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu. Imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e agente nem soubesse que era o fim...

Mário Quintana

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O luar...


Em noite de lua cheia..., originally uploaded by Maria Rego.


"O luar,
é a luz do Sol que está sonhando."


Mário Quintana - Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973

Os poemas


OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Fonte:
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre, 1980.