Esta é a cidade
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Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.
Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!
António Gedeão (excerto)
quarta-feira, 12 de março de 2008
Esta é a cidade
domingo, 9 de março de 2008
Semblance
Why do you plant artificial flowers?
Plastics never bloom -
I know and you know too.
They are uniformly symmetrical - robotic,
have no fragrance, but they please the eye;
to me flowers symbolize joy.
They may not sprout,
but keep the hope alive
in these days of drought -
predicted to be severe and prolonged.
--
"Semblance" - CS Shah
Pedra Filosofal
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
. . . . .
António Gedeão
sábado, 8 de março de 2008
Acabei agora de comer
"Acabei agora de comer
um campo de tulipas
Não sei o que fazer
com tanta beleza nas tripas"
Acabei agora de comer
Jorge Sousa Braga
O Poeta Nu
Vos sinto por toda parte
Vos sinto por toda parte.
Se me falta o que não vejo
Me sobra tanto desejo
Que este, o dos olhos, não importa.
(Antes importa saber
Se o que mais vale é sentir
E sentindo não vos ver.)
São coisas do amor,
Desordenadas, antigas.
E se são coisas que se invejam
P'ra se cantar a cantiga.
Não são os olhos que vêem
Nem o sentido que sente.
O amor é que vai além
E em tudo vos faz presente.
Hilda Hilst
O homem e a água
Deixa-me ser o que eu sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.
E o meu destino é seguir...
seguir para o mar.
O mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...
O homem e a água
(Mário Quintana, Últimos Poemas - 1994)
Se você...
Se você está parecido com a fotografia que tem no passaporte, é porque está realmente a precisar de viajar
Earl Wilson