segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Simpatia...



Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

(...)
Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!


Que é simpatia - Casimiro de Abreu

Navio que partes


So long "Aurora", originally uploaded by DjSousa.



Navio que partes para longe,
Por que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade.


Navio que partes - Alberto Caeiro

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Is not this whole world an illusion?


Realidades reflectidas..., originally uploaded by Joe Taruga.


Is not this whole world an illusion? And yet it fools everybody.

Angela Carter

Às vezes ouço passar o vento...


Porque hoje é sábado..., originally uploaded by Azorina.



Às vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Christmas is a bridge


, originally uploaded by Eliel Freitas Jr.


"Christmas is a bridge. We need bridges as the river of time flows past. Today’s Christmas should mean creating happy hours for tomorrow and reliving those of yesterday."

Gladys Taber (1899 -1980)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Our own point of view...


rainny Sunday, originally uploaded by eloisavh.



We cling to our own point of view, as though everything depended on it. Yet our opinions have no permanence; like autumn and winter, they gradually pass away.


Zhuangzi

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Mãe, que é que é o mar, mãe?


Unconditional love..., originally uploaded by Azorina.


"Mãe, que é que é o mar, mãe? Mar era longe, muito longe dali, espécie de lagoa enorme, um mundo d'água sem fim. Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. 'Pois mãe, então o mar é o que a gente tem saudade?'


Guimarães Rosa, do livro "Grande Sertão, Veredas"

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

The night...


Zurich by night, originally uploaded by eloisavh.



I often think that the night is more alive and more richly colored than the day.

Vincent Van Gogh

Memory...


Fotógrafos, originally uploaded by Ana Santander.





Memory does not make films, it makes photographs.



Milan Kundera

Emergência


Um olhar nas minhas mãos..., originally uploaded by Joe Taruga.


Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

(Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural, 1976)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

You become things...


Liberdade, originally uploaded by Ana Santander.



You become things, you become an atmosphere, and if you become it, which means you incorporate it within you, you can also give it back. You can put this feeling into a picture. A painter can do it. And a musician can do it and I think a photographer can do that too and that I would call the dreaming with open eyes.



Ernst Haas

Noite


Imensidão..., originally uploaded by Azorina.




Mais uma vez encontro a tua face,
Ó minha noite que julguei perdida.

Mistério das luzes e das sombras
Sobre os caminhos de areia,

Rios de palidez que escorre
Sobre os campos a lua cheia,

Ansioso subir de cada voz
Que na noite clara se desfaz e morre.

Secreto, extasiado murmurar
De mil gestos entre a folhagem

Tristeza das cigarras a cantar.

Ó minha noite, em cada imagem
Reconheço e adoro a tua face,
Tão exaltadamente desejada,
Tão exaltadamente encontrada,
Que a vida há-de passar, sem que ela passe,
Do fundo dos meus olhos onde está gravada.



Noite - Sophia de Mello Breyner Andresen

You may be sorrow...


Criança Esperança 2006, originally uploaded by Ana Santander.


“You may be sorry that you spoke, sorry you stayed or went, sorry you won or lost, sorry so much was spent. But as you go through life, you'll find - you're never sorry you were kind.”

Herbert Prochnow

onde as árvores vivem em paz...


" Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz. "

(António Carlos Jobim)

domingo, 9 de dezembro de 2007

Algo existe


Farol de Itapuã, originally uploaded by Pinkuiro.



Algo existe num dia de verão,
No lento apagar de suas chamas,
Que me implele a ser solene.

Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura - um azul - uma fragrância,
Que o êxtase transcende.

Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -

E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.

Algo existe - Emily Dickinson

Velhas árvores


Ponte de Lima, originally uploaded by Rosario_Marques.


Velhas árvores

Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Borboleta


Free as a butterfly ..., originally uploaded by Azorina.


Filha da larva que o Inverno hostil
Gelou numa dureza concentrada
Ao aquecer do flavo Sol d’Abril
Surgiu de forma leve e curva alada.

Íris que voa, aspiração subtil
Da flor que quis ser ave, e transformada
Libra no ar a pétala gentil,
Asa da cor, paleta iridiada,

Poisa tão breve que se um sopro a agita
Ergue-se a bambolina num fulgor...
Aflora os lábios duma margarita.

Abrindo manchas, vai de flor em flor,
Flutua, anseia, embala-se e palpita...
Como um bailado trémulo da cor.


A Borboleta - Jaime Cortesão

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Como às vezes num dia azul e manso...


Paisagem, originally uploaded by DjSousa.



"Como às vezes num dia azul e manso"

Como às vezes num dia azul e manso
No vivo verde da planície calma
Duma súbita nuvem o avanço
Palidamente as ervas escurece
Assim agora em minha pávida alma
Que súbito se evola e arrefece
A memória dos mortos aparece...


Fernando Pessoa

A lição do vento


Deep Blue..., originally uploaded by Joe Taruga.



Ao longe ouve-se um farol
Como um nome em pleno espaço
Guardando o vento rouco e baço
Solitário como um Sol

E todo o mar suspenso
De um vazio imenso
Refelecte dum terraço a perfeição

Todo o silêncio
Todo o traço
Todo o esplendor em vão
Tornam mais presente
Toda a solidão

in " A lição do Vento",Maria Azenha

Nature knows...


Florzinha do capim :o), originally uploaded by Ana Santander.


Nature knows no difference between weeds and flowers.

Mason Cooley

sábado, 1 de dezembro de 2007

Devia morrer-se de outra maneira...


Céu incandescente..., originally uploaded by Graça Vargas.




Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de Outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...


Na morte de Manuela Porto - José Gomes Ferreira

A hora para fotografar...


, originally uploaded by ~~henry~~.

Quem sabe diríamos que a hora mais inadequada para fotografar é ao meio-dia, quando o sol alcançou seu ponto mais alto, produzindo sombras muito contrastantes e nem sempre agradáveis em fotografias de ambientes ou pessoas. Durante o dia, a luz do sol vai mudando de direcção, altura, cor e qualidade, modificando o aspecto de uma paisagem. Assim, no alvorecer, os primeiros raios de luz criam um conjunto de tons pastéis que ficam suavizados pela bruma característica deste horário. É um bom momento para se tentar explorar este tipo de iluminação. Por outro lado, no fim da tarde, quando o sol cai no horizonte e começa o crepúsculo, o céu se transforma, com tons cor-de-rosa, produzindo uma iluminação lateral que evidencia a textura e o relevo de uma paisagem além de proporcionar, sucessivamente, cores mais quentes - amarelada, dourada e avermelhada, até acontecer o ocaso. Durante estes poucos minutos a paisagem se altera sem cessar, proporcionando um sem número de possibilidades de se fazer uma boa fotografia.

Gostaria de registrar também que a fotografia feita com o sol totalmente encoberto cria condições ideais para uma proposta suave sem grandes contrastes. É indicada, principalmente, para tomada de pessoas.


Entrevista concedida pelo fotógrafo Germano Schüür à revista Informativo Randon em outubro de 1986 - www.photographia.com.br/texfoto.htm

Para sempre


Moving waters, originally uploaded by Rosario_Marques.



Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.


Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho


PARA SEMPRE - Carlos Drummond de Andrade

PS: Para ouvir o próprio poeta recitando este poema
memoriaviva.digi.com.br/drummond/poema039.htm

When words become unclear...


O silêncio, originally uploaded by Ana Santander.


When words become unclear, I shall focus with photographs. When images become inadequate, I shall be content with silence.


Ansel Adams

Paraíso


Dias de "Alerta" / Waves, originally uploaded by Maria Rego.


Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

"PARAÍSO" de David Mourão-Ferreira

Eu, que sou feio...


Coffe Break, originally uploaded by nuno_ferreira.



Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa dum café devasso.
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez não o suspeites!-
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.

Adorável! Tu muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.

Eu, que sou feio... - Cesário Verde

Interrogação


Lonely leaf..., originally uploaded by Azorina.



INTERROGAÇÃO

Estar morto
E ainda verde,
Como as primeiras folhas
Caídas no Outono,
Será esse
O destino
Dos Poetas?



Raul de Carvalho

in Poesia Instante (1984)

Water Picture


White wings of power..., originally uploaded by Azorina.




In the pond in the park
all things are doubled:
Long buildings hang and
wriggle gently. Chimneys
are bent legs bouncing
on clouds below. A flag
wags like a fishhook
down there in the sky.

The arched stone bridge
is an eye, with underlid
in the water. In its lens
dip crinkled heads with hats
that don't fall off. Dogs go by,
barking on their backs.
A baby, taken to feed the
ducks, dangles upside-down,
a pink balloon for a buoy.

Treetops deploy a haze of
cherry bloom for roots,
where birds coast belly-up
in the glass bowl of a hill;
from its bottom a bunch
of peanut-munching children
is suspended by their
sneakers, waveringly.

A swan, with twin necks
forming the figure 3,
steers between two dimpled
towers doubled. Fondly
hissing, she kisses herself,
and all the scene is troubled:
water-windows splinter,
tree-limbs tangle, the bridge
folds like a fan.


Water Picture by May Swenson